Quando bebê sugamos o leite. Um líquido com um sabor sutilmente variável (se amamentado no seio materno) e invariável se for leite em fórmula. Temperatura sem variação. Consistência idêntica. Movimento de sucção aprendido pela dupla: mãe/bebê.
O bebê cresce. A oferta da comida muda. De líquido à pastoso. Sugar apenas não é mais suficiente. A comida ganha novas cores, formas, texturas, temperaturas, consistências e sabores. Com isso, o pequenino passa a mascar o alimento sentado (não mais inclinado). A perspectiva de mundo se altera. Quando sentado, enxerga o mundo de uma nova forma. Do colo o bebê vai para uma cadeirinha, “desgrudando” do corpo da mãe. Mascar é um movimento “intermediário” entre a sucção e a mastigação.
A comida fica em trânsito na boca entre todas essas novas experiências sensoriais e motoras. A cada nova refeição, uma nova aventura para a dupla: alimentado e alimentador.
O que está em jogo não é apenas a comida, mas como a dupla vai se relacionando com esse momento: da alimentação. Destaco: a dupla. Não há bebê sozinho. Não há mãe (ou aquele que está ocupando a função materna) sem bebê.
No momento da comida acontece essa fusão entre aspectos: motores, sensoriais, afetivos e vinculares de dupla.
Certa vez, o pediatra dos meus filhos orientou que eu os oferecesse beterraba. Escutei. Obedeci. Fracassei nas duas tentativas em momentos históricos diferentes.
Eu detesto beterraba e certamente comuniquei isso de alguma forma para ambos. Ambos rejeitaram todas as colheradas quando era eu que oferecia. Quando outra pessoa que tinha bom vínculo com eles e que tinha boa relação com a beterraba oferecia, eles aceitavam.
Cabe aqui a reflexão sobre a alimentação humana ser uma atividade complexa que envolve: motricidade, sensorialidade, vínculo e afeto. É nesta “encruzilhada” que o sujeito se alimenta, de forma satisfatória ou insuficiente.
Afinal, você tem fome de quê?
Malka B. Toledano
Fonoaudiologa e Psicanalista